quarta-feira, 28 de março de 2018

Inscrições abertas p/ Oficina Aula do Papel com Angel Vianna na Associação Dança Cariri


A 'IX Semana Dança Cariri - A Dança não se finda' abre inscrições para a Oficina Aula do Papel com a grande dama da dança brasileira Angel Vianna, um momento histórico para a dança no Ceará. O evento acontecerá dia 12 de abril das 15h as 18h na Associação Dança Cariri, gratuito, os interessados devem enviar um email para associacaodancacariri@gmail.com com um curriculo de cinco linhas, a lista dos selecionados será divulgada dia 02 de abril de 2018 nas redes sociais da ADC e neste blog.

A aula do papel é um acontecimento promovido, dirigido e atuado pela bailarina e Mestra da dança contemporânea Angel Vianna (1928) desde o ano de 2002 é mais uma mostra de como o advento da arte contemporânea se revela cada vez mais inesgotável e surpreendente. Esta grande artista que vem desde a década de 40 mobilizando o universo da dança brasileira e sobretudo investindo na sua educação e construindo uma consciência crítica e reflexiva sobre ela, continua nos dando prova de como os modos de expressividade artísticas são constituintes de uma investigação prática e contínua da vida de um sujeito e sua subjetivação no mundo.


 O papel, o toque, a dobra e o ritual da vida

Muitos foram os objetos que em 7 décadas de trabalho ininterruptos de pesquisa e formação na e para a dança Angel levou seus alunos e espectadores a manipular; bolinhas de tênis, meia calça feminina, bambus, bancos de madeira e plástico, escovas, tecidos, ossos, balões de ar e inúmeros outros objetos que eram trazidos para suas aulas. Suportes que saiam do seu uso cotidiano e passavam a interface de contato do corpo com o espaço e o tempo para no final servir de ponto de apoio e aproximação com o corpo do outro. Pois todo trabalho de Angel parte do sujeito que individualizado se desliza em direção ao coletivo.

O papel, uma folha em branco, escolhida por Angel para sintetizar o uso do objeto em seus trabalhos é uma metáfora sublime da relação do corpo humano com o conhecimento e sua inscrição no mundo. Como uma segunda pele ou tábula rasa aonde tudo pode ser construído a partir da sua “vazia” superfície, o papel em branco que Angel nos coloca frente a frente afim de manipularmos, hora se apresenta como espelho refletindo nossos traços e marcas, hora folha retirada do nosso próprio livro da vida, aonde inscrições de afetos e percepções de força se instauram, hora nossa própria pele solta no espaço e hora a pele do outro que toco e me toca.

Em suas três horas de atuação Angel vai delicadamente nos conduzindo por caminhos exploratórios que fazem recuperar e colocar em ação nossos sentidos convocando-os a trabalharem juntos; audição, foco, respiração, tato e por que não paladar, uma vez que nossa saliva vai sendo liberada pela provocação sensória dos demais sentidos na busca de um estado de atenção e consciência de corpo capaz de transpor para o papel nossas marcas.

E a atenção se volta neste instante para dentro, para o gesto mínimo e preciso, para uma composição geométrica de linhas e formas que se entrecruzam num plissado assimétrico, impregnado de gestualidades e intenções entre sujeito e objeto. A partir dessas dobraduras, como um espelho-tátil (Massumi, 2016) em total sinestesia – corpo e objeto passam a ser mediados pela pele, “liberadora de tensões” como repete Angel a todo instante e insiste - “o contato nos ajuda a encontrar conscientemente a forma do corpo dentro da pele”, Atenção!


Nenhum comentário:

Postar um comentário